segunda-feira, 11 de julho de 2011

Quanto vale a sua vida?

Tenho uma amiga, médica conceituada, que está muito bem de vida: cobra
R$ 300 por consulta e o que mais faz é trabalhar: de segunda a sexta, pega
no batente das 7h às 22h. Aos sábados, como ninguém é de ferro, a jornada
é reduzida à metade. Não tira férias, só pensa em trabalho e em garantir um
futuro “confortável” para si e para seus dois filhos.

Semana passada, me atendeu cantarolando o clássico “La vie en Rose”.

-- Já foi a Paris, Eneide? – perguntei.

-- Cheguei de lá ontem – respondeu, satisfeita.

-- Férias com a família?

-- Não, fui fazer um curso.

-- Levou o marido e esticou uns dias?

-- Imagina! A cidade é caríssima: um jantar, 60 euros! Se tomar uma coca-
cola, lá se vão mais oito! Passei seis dias no curso e tratei de vir embora
antes que tivesse um prejuízo daqueles...

Ao final da consulta, a vi olhando a paisagem pela janela, e pensei em
perguntar-lhe se não custa caro passar a vida ali, nos limites daquela
salinha, enquanto sua juventude se desgasta e seu dinheiro rende juros nas
aplicações. Mas ela ainda não acordou para a realidade de que a vida corre
e tudo muda de um momento para o outro, inclusive nós mesmos.

Há pouco tempo, ouvi de uma outra amiga, work-a-holic inveterada e
também muito bem-sucedida, que ela descansa quando vai para o hospital.
Durante 28 anos jamais tirou um mês de férias. Ano passado, doentíssima
no CTI mais bem equipado da cidade, olhava o teto pensando o que é que
tinha feito da sua vida.

Ganhou uma nova chance, por fim, tomara que faça bom uso dela... é
comum que, diante da possibilidade de morrer, as pessoas repensem sua
trajetória e decidam não jogar mais a vida fora. O que não quer dizer que
cumpram, de fato, com sua decisão, porque mudar os valores nem sempre é
tarefa fácil.

Mas já é um desperdício enorme esperar a morte iminente para aprender
a valorizar a vida! Ou fazer da juventude uma senzala, para que a velhice
seja abençoada... e quem foi que disse que você vai chegar até lá?

Eu mesma pensei ter muito tempo pela frente para levar minha irmã a
Machu Picchu, um sonho nosso. Infelizmente o tempo dela se acabou antes
que eu comprasse as passagens, e o que para mim era um plano várias
vezes adiado, virou uma frustração definitiva.

Enquanto as responsabilidades deste mundo nos gritam a todo instante,
e nos deixamos tragar pelos compromissos inadiáveis, o tempo segue.
Enquanto nossas necessidades de segurança e projetos financeiros nos
dominam, a vida vai passando, irredutível. A quem diz que “desta vida não
se leva nada”, respondo que sim, levamos a vida que vivemos: o que fica
para trás é justamente o dinheiro, que para os mortos, aliás, não tem mesmo
valor nenhum.

O mundo é lindo demais para não ser apreciado!

7 comentários:

  1. É como se diz aqui na Boca do Mato "caixão de defunto não tem gaveta". Um abraço.(sidney)

    ResponderExcluir
  2. Muitos de nós trabalhamos muito,E quando morremos
    deixamos os filhos ricos ou bem de vida. E provavelmente eles levarão uma vida sem graça pois viverão só do dinheiro deixado. (Sergio)

    ResponderExcluir
  3. Fernanda,a praia da foto é no litoral cearense ? Achei parecido.Bom,sobre seu post acho que você diz tudo...Outro dia fiquei pensando sobre a vida,de que vale realmente tudo que vivemos se no fim não levamos nada ?De que valem lágrimas ou sorrisos.Agora digo como a Edith Piaf (a cantora do La vie en rose,você deve saber): "non,je ne regrette rien".Traduzindo não literalmente,eu diria que não tem nada nessa vida que me apegue a ela.

    ResponderExcluir
  4. Mauro Pires de Amorim.
    Você tem toda razão, igualmente como há algum tempo atrás, o Migliaccio me respondeu num comentário que fiz ao Rio Acima. O trabalho e o acumulo de dinheiro é um vício, tal qual vídeo games, bebida alcoólica, drogas em geral, enfim, tudo que vire uma compulsão que norteie nossas vidas, cegue nossos olhos e dominem nossos sonhos, impedindo-nos de levar uma vida equilibrada e plena.

    ResponderExcluir
  5. Olá,Fernanda.Antes de tudo,quero te parabenizar pela criação deste blog e dizer que sou leitor fiel de seus textos no JB.
    Perceber que vivemos num mundo regido pela lógica do ter como medida de caráter e felicidade é triste,muito triste.Conheço outros tantos exemplos como o de sua amiga e remeto-me à pungente obra cinematográfica "Tempos Modernos" de Chaplin que denuncia o caráter perverso do trabalho tal como se apresenta na era capitalista.Trabalhamos não para qualificarmos nosso senso criativo mas para acumular propriedades diversas e-assim-adquirir respeitabilidade e sucesso social.Nunca aceitei a mentira ideológica que enobrece o trabalho pois não há nobreza quando a potência humana é vilipendiada e convertida em mercadoria.

    ResponderExcluir
  6. É, o negócio é aproveitar o tempo que temos nesse carrossel. Eu trato de fazer isso todos os dias. O sovina não curte a vida, o banqueiro é que curte por ele...

    ResponderExcluir
  7. Caríssima Fernanda...não resisti à tentação do ótimo post, mas recolhi-me à minha insignificância rsrs, e, para somar compartilhando, preferi reproduzir a sabedoria do Dalai Lama, para ser re(lembrada), cotidianamente, enquanto vivos: "Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viverem nem no presente, nem no futuro. E vivem como nunca fossem morrer...e morrem como se nunca tivessem vivido". Perfeito,não? Também considero sapientíssimos os OS TRÊS ÚLTIMOS DESEJOS DE ALEXANDRE, O GRANDE. Quando à beira da morte, ele convocou os seus generais e os enumerou:1 - que seu caixão fosse transportado pelas mãos dos médicos da época; 2 - que fossem espalhados no caminho até seu túmulo os seus tesouros conquistados ; e 3 - que suas duas mãos fossem deixadas balançando no ar, fora do caixão, à vista de todos.Um dos seus generais, admirado com esses desejos insólitos, perguntou-lhe quais as razões. Ele explicou:1 - Quero que os mais iminentes médicos carreguem meu caixão para mostrar que eles NÃO têm poder de cura perante a morte;2 - Quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros para que as pessoas possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui permanecem;3 - Quero que minhas mãos balancem ao vento para que as pessoas possam ver que de mãos vazias viemos e de mãos vazias partimos. Para fechar meu embrulho, mineiramente, o meu mantra predileto: "AGORA", cantado por uma grande e singular artista mineira: "...Tome a vida nas mãos, beba o momento já, antes que seja tarde, se quiser cantar, cante agora, se quiser falar, fale agora, aquela idéia bacana , aquele beijo roubado, não deixe o tempo te deixar prá trás"...
    "Resóperadoumo"? Acredito que as pessoas quase sempre temem a liberdade, o auto-conhecimento e o prazer e, ato contínuo, se escondem em trabalhos compulsivos e/ou vícios.
    Muita alegria, saúde, sorte e prazer, procê!!!
    Marcos Lúcio Pinto

    Fonte: http://pt.shvoong.com/humanities/philosophy/1765261-os-tr%C3%AAs-%C3%BAltimos-desejos-alexandre/#ixzz1S8FLiKzG

    ResponderExcluir

Dicas para facilitar:
- Escreva seu nome e seu comentário;
- Selecione seu perfil:----> "anônimo";
- Clique em "Postar comentário";
Obrigada!!!!!