segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"A inveja não me deixa botar azeitona na empada de ninguém!"

Mantenho distância de gente mercenária. “Elogiar? Mas ninguém me elogia!”, dizem os negociantes da auto-estima, que distorcem a célebre frase “é dando que se recebe”. Da mesma forma, aqueles que economizam favores ou gentilezas usam esta justificativa, e não colocam azeitona na empada de ninguém. Não colocam porque a inveja não deixa.

Aqui com meus botões, penso que este é o típico comportamento de gente que transforma tudo em competição, inclusive a amizade. E acreditam que os outros não percebem, porque, claro, os outros são burros. Deus me livre!

Foi numa conversa sobre isso, com minha grande amiga, a Dra. Vera, mulher moderna nos seus 80 anos de sabedoria, que comentei imaginar a vida em retiro uma boa alternativa a este mundo tão competitivo e invejoso... e acabei me lembrando de Santa Teresinha do Menino Jesus, de quem sou fã.

-- Santa Teresinha padeceu no convento! As freiras não gostavam dela – me disse a Dra. Vera.

Pasmei.

-- As freiras não gostavam dela?!
-- Freira também é gente, minha filha. O convento está cheio de quê? De gente. Onde tem gente, também estão os defeitos.

Acabou-se ali a veleidade que alimentei, desde criança, de, depois de curtir bastante a vida, acabar meus dias no ambiente leve de um convento, cercada de muitas amiguinhas boa-praça. Quer dizer que Santa Teresinha, que foi -- e continua sendo – uma santa, e que sofreu muito devido à humildade, injustiça e doença, além de tudo teve que aturar gente que tinha inveja dela?!

Como meu pensamento voa, e disso já sabemos, acabei me lembrando do dia em que minha irmã Teresa, doentíssima, recebeu a médica acupunturista em casa, para tentar lhe aplacar dores que nenhum remédio aplacava. A doutora, formada na China, chegou elegante como sempre, em seu terninho, mas mal-humorada devido ao trânsito. De tão dedicada à carreira profissional, não teve tempo para casar-se ou ter filhos: rica e famosa, especializou-se em doentes terminais, mas detestava atender em domicílio.

Cercada por filhos e marido dedicadíssimos, minha irmã sofria na cama, usando pela primeira vez um autêntico robe de seda floral japonês, em tons de verde água, que a tia havia dado um jeito de mandar vir do outro lado do mundo, na tentativa de alegrá-la.

A médica pisou no quarto com seu salto alto e não disfarçou o encantamento diante da peça. Mal começou a espetar as agulhas, perguntou sua origem. Passou a sessão falando de suas viagens ao Oriente e, ainda que minha irmã reclamasse do peso de sua mão, mais pareceu estar num salão de chá, jogando cartas com as colegas.

Lá pelas tantas, foi à sala, a pretexto de beber água, e sacou o celular para uma ligação internacional. Dali mesmo, encomendou um robe de seda floral verde água, e entrou quase eufórica no quarto, para dar a notícia à paciente: seu robe chegaria em poucos dias!

Minha irmã encerrou a sessão e depois me perguntou, com uma expressão quase vencida no olhar:
-- Como pode, uma pessoa à beira da morte, ainda causar inveja em alguém?

Carrego esta pergunta há anos, e agora a divido com vocês.

Um momento feliz na vida da Teresa

4 comentários:

  1. O desespero faz com que as pessoas acabem achando que fulano pode resolver, atenuar uma dor porque ele é famoso (a) e seu serviço é caro e, jamais na situação de "emergência", podem imaginar que o tal, é um traste em busca de remédio para o mal que o elegeu para o posto ocupado. O melhor a fazer, na necessidade, é manter a linha de fé existente e não se deixar iludir nem pelos melhores intencionados, "fora do fato". Aproveitadores de plantão estarão sempre a contemplar as dores alheias e prontos para usurpar, não exatamente o pagamento, mas a força, o digno,... Afim de exatamente estar modelando a própria indignidade. Teresa está feliz, em paz.

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  2. Fernanda,a minha mãe sempre me recomendava o seguinte:Se vc perceber que uma pessoa tem inveja de vc,e não tem como se afastar,toda vez que vc fizer suas orações,inclui um credo em benefício do anjo da guarda dessa pessoa,e assim ficamos livres da negatividade da tal criatura. bjs.
    Monica.

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  3. Olá Fernanda.. qto tempo, talvez nem se lembre mais de mim, mas me lembro muito de vcs todas da sua casa da sua mãe maravilhosa, de brincar de Susi com Claudia e Renata, adorei seu blog e sempre visitarei...e vou ainda compartilhar para que todos saibam que vc é mais um orgulho Sãogonsalense... Parabéns ... Sorte Tudo de melhor sempre
    Andréa

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  4. Oi Fernanda, que bom encontrar de novo suas maravilhosas histórias, obrigada por partilhar suas reflexöes. Tb gosto muito de Trezinha de Lisieux, tem um livro dela que é uma brisa na vida,na minha foi uma aragem, a história de uma alma,caso vc se interesse. Tudo de bom,onde moro hoje esta a 8°C e quando vi uma foto com areias brancas,me deliciei.tudo de bom e fica com Santa Terzinha.

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