sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Meu coraçào è cidadào do mundo

Ando de viagem por estes dias: caminhando muito pelas ruas de uma cidade que adoro, comendo macarróes e sobremesas que hà muito náo comia, revendo paisagens, fazendo uns gastos extras e descansando a mente, a alma e o coraçào.

Espero que, na volta para casa, nào encontre a dona Angùstia no sofà da sala, tomando um chà, â minha espera... com um risinho no canto da boca amarga. Mas olha, nem penso nisso: embora saiba que o melhor lugar do mundo pra chorar as pitangas è a velha cama e o travesseiro táo amigo, desta vez corri para o horizonte.

Vem dando certo. As àrvores que eu jà conhecia, as esquinas onde o vento è táo frio, a arquitetura singular desta capital... a mùsica, os carros velhos pelas ruas... tudo me encanta e me recorda que, se estou no mundo, è pra viver! Meu coraçào tem batido forte ultimamente, a arritmia grita de dentro do meu peito, mas tenho fè: è de alegria!

Pra quebrar o clima, um poema de paixáo

Obediência
(dezembro 2006)

O dia passa, vou vivendo
(Um objeto a mais entre os da casa).

Faz sol ou chove?
O guarda-chuva, como eu, é só espera
Sem se importar que o céu desabe.
Até os copos, sobre a pia,
São meus irmãos, de tão vazios.

Cada segundo é só de tédio,
De solidão que já nem me comove,
E que nem penso mais que se acabe.

Só quebra este marasmo a pulsação, que treme o prédio:
A vizinhança foge, enquanto rio de sarcasmo,
Sem medo de ruir, porque já não sou nada;

Meu pensamento cobre a pele de arrepios
A tua voz, que busco, o teu chamar, que me rejeita.

Pra não morrer, só um remédio:
Mando que aquiete o coração,

E ele, como um cão,

Se cala e deita.

(Fernanda Dannemann)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

sábado, 24 de setembro de 2011

Marcos Lúcio "ataca" outra vez!!!!!!!!!

QueriDannemann...o chato é sempre o outro , mas como somos, também, o outro, seremos, mais cedo ou tarde, os chatos da hora (há raríssimas exceções!?). A nossa propria finitude, tanto quanto nossa transitoriedade, lembram-nos de que não dá para levar tão a sério a vida, (basta termos responsabilidade)afinal, dela ninguém sai com vida. As dores, de intensidades diferentes, de cada um,(delas também ninguém escapa completamente) podem ser professoras nesta escola existencial... para aprendermos que, tanto quanto o vento que venta lá venta cá, o rio que leva, é o mesmo que pode, desde que consintamos, trazer novas e limpas águas, e não apenas os mesmos seixos depositados no seu fundo.Melhor ainda, se aprendermos_ para chegar à nascente_ a nadar contra a corrente.Portanto, somente após o luto vivenciado, jamais negado, é que a sensação de vazio ou ausência pode e deve, também _tudo a seu tempo_ser transformada em possíveis e necessários re-nascimentos (como fênix) afetivos, ou seja, sair do luto para o reencontro com a paixão pela vida.Deixamos, então, a dedicação quase exclusiva pela falta ou perda, para concentrarmos no que ainda de bom possuímos_principalmente nossos afetos ainda encarnados_ além de ficarmos mais atentos ou seletivos com relação ao tempo que ainda nos resta.Somos como remédios: temos, todos, prazo de validade.Recuperando o ENTUSIASMO , volta a fundamental sensação de que Deus habita em nós, ou seja, sentimos, em plenitude, nossa pulsação de alma (etimologicamente é este o real significado da palavra= ter Deus em si).
Como gosto de variações, inclusive os dias, as coisas e as pessoas não são iguais,interrompo as mal traçadas linhas, para fazer minhas, as palavras do João A. Macedo , sobre a essência da vida: A IMPERMANÊNCIA, tentando compartilhar e solidarizar.

"A experiência de morte e separação dá-nos a percepção de impermanência, realidade que evitamos encarar. As estações mudam, as pessoas mudam, a vida muda. O nordeste tem regiões secas, que hoje são caatingas, sertões que outrora foram mar. Existe uma tendência de não aceitarmos e de resistir ao princípio (imutável) da impermanência.
Precisamos aprender que, quanto mais apegados nós somos a nossos bens materiais e relacionamentos no mundo, quanto mais importantes e necessários pensamos que somos , mais dor se vive quando chega o fim terreno.
O conhecimento do conceito de impermanência deve ser encarado positivamente de um modo diferente e compreendido que, por pior as coisas possam parecer: adversas e prejudiciais naquele momento, as circunstâncias que geraram o sentimento de infelicidade, não podem durar muito: vida que segue.
É de se perguntar: Se tudo é impermanente, se nada dura para sempre, como pode alguém ser feliz? A verdade é que não podemos nos apegar às coisas, mas admitir e aceitar as situações irreversiveis.
(...)
Se tivermos a sabedoria, a consciência de colocar nas nossas vidas o conceito de impermanência, e a maturidade de saber que tudo é impermanente, vamos ver que nossas experiências serão mais ricas, nossos relacionamentos mais sinceros, e que teremos maior apreciação/atenção por tudo aquilo de que já desfrutamos".
Sinceramente, é a única ou melhor forma de que tenho notícia ou experiência, para ser feliz: somente com o máximo de realismo possível, saúde e a proteção de Deus.
Abraço caloroso e forte.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Hoje um cabritinho me fez sorrir


Abro bem os olhos, pra que a beleza do mundo não me escape. Está aí, por toda parte, e que depois não digam que a vida não tem milagres: os olhos é que fazem os milagres. E se não os fazem, é só por falta de atenção.



quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Vento que venta lá, venta cá

Embora a gente se esqueça, viver é, acima de tudo, um exercício... e de muitas coisas: num sentido mais amplo, um exercício de vontade, de paciência, de esperança, de humildade, de desprendimento... a “matéria” varia de acordo com o aluno, porque cada um tem o seu dever de casa, personalizado, pra fazer.

E às vezes vem aquela vontade danada de deixar pra lá e de jogar as provas para o alto, porque a vigilância permanente cansa, a obrigação de aprender cansa e a necessidade de seguir em frente cansa mais ainda.

Quando bate este cansaço todo, talvez o melhor seja buscar o isolamento, porque o mundo, que é de onde saiu o Facebook, não está nem aí para o que vai no seu coração, e se você não tem alegria pra mostrar, nem pique pra manter a pose... se você estiver uma pilha, ou tão triste que não consiga fingir que está tudo ótimo... dirão que você é um chato, e como se isso fosse um absurdo, como se você tivesse a obrigação de ser a melhor companhia do planeta. E o tempo inteiro.

Mas o ser humano de verdade é o que é, e ainda não inventaram a maquiagem que disfarce isso. Embora sejamos muito diferentes uns dos outros, estamos todos juntos nesta tribo universal, que é a espécie humana, onde o sofrimento faz parte da vida tanto quanto o estômago ou o pulmão: é impossível viver sem; todo mundo tem o seu.

Melhor exercitar o coração, a mente e o espírito pra aprender a viver com isso, porque sempre há de chegar o dia em que o chato que não tem lugar no mundo... seremos nós.

 Será que tem um cantinho pra mim aí em algum lugar?

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Alice no País do Facebook

Não faz muito tempo, dei a mão à palmatória e abri uma conta na rede mais badalada do planeta, para divulgar o blog.

Estou quase desistindo: é demais pra mim aquela festa que nunca acaba, aquele Carnaval sem quarta-feira de cinzas, onde todos são lindos, louros, magros e ricos. Por que será que todo mundo é sempre tão feliz no Facebook? E a tristeza, que já foi coisa tão particular, ali ganha ares de novela da Globo?

No palco do Facebook, todo mundo é lindo: quem não é, recorre ao fotoshop ou às imagens alheias. Vale tudo em nome do glamour, das cenas teatrais, da chance de ser protagonista nem que seja por alguns minutos, e em uma rede de relacionamentos tão superficiais.

Sabe aquela coisa muito confortável, chamada “anonimato”? E aquela outra, a tal da “privacidade”? O “Face” está acabando com elas, porque o consenso geral prega que ser anônimo é chato demais!

E vou além... digo que o Facebook é mais uma daquelas invenções que, com o passar do tempo, se revelaram nocivas à humanidade, utilizadas que foram para promover o que há de ruim no coração e nas idéias humanas. Tenho visto gente ser caluniada, agredida, exposta e ridicularizada nas páginas desta rede, a mais “social” que se teve notícias até hoje: esta rede cuja força motriz é a aparência, e quase nada é o que parece.

Talvez o futuro do Facebook não vá longe. Talvez, em algum momento, as pessoas percebam o quanto é desgastante ter que manter a pose o tempo todo, só pra sentir que pertencem a alguma tribo “fashion”, “antenada” ou sei lá o quê. O quanto é cansativo bancar a “celebridade” sem direito a, simplesmente, ser uma pessoa “qualquer”, daquelas que não precisam se iludir com a pretensa “popularidade”, nem ter centenas de “amigos”, nem ter seus “fatos & fotos” publicados na rede da moda... aliás, como escraviza esse negócio de ter que se enquadrar “na moda”! Isso também há de cansar, de esgotar as multidões carentes e necessitadas dos já tão batidos “15 minutos de fama”... (até a frase do Andy Warhol já me parece out, cafona como uma bolsa Louis Vuitton!).

Enquanto a vida é quase um roteiro de “Sex in the City” na tela do Face, a nossa velha conhecida, a Alice, que no começo achava tudo maravilhoso, de repente passa a ver que aquele gato não é tão gente fina assim... e aquele Chapeleiro... bem, ele é bem mais maluco do que se pensava...  



Livro "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll, ilustração de Camille Rose Garcia

Leia Também:

Não Me procure no Orkut 

O cafofo da Fefa 



sábado, 17 de setembro de 2011

Se somos tudo, também não somos nada!

No meu clubinho imaginário, onde Sócrates e Hobbes (não o filósofo Thomas, mas o Tigre amigo do Calvin) desfrutam de igualdade de condições, as conclusões de alguns chapas confundem meus sentimentos. E fico sem saber se nós, os Gremlins, não somos mesmo nada... ou será que somos tudo (e por isso estamos “prosa”?).

De Albert Einstein, que sacou tantos milagres do universo, a Fernando Pessoa, que captou os mais obscuros cantinhos da alma humana, onde é que está o valor do homem? Outro dia vi um filme que gostei muito, sobre a vida de Charles Darwin. Eu já o admirava muitíssimo pelas razões mais óbvias, mas passei a gostar dele como pessoa, ao saber dos seus conflitos entre a Ciência e Deus. E por concluir que, para ele, todas as criações divinas eram iguais, providas do mesmo valor, da mesma maravilhosa centelha, dos mesmos direitos à vida... e à liberdade, sua matéria-prima essencial.

Penso no quanto é tão grande a existência, o coração que trazemos e tudo o que cabe nele, de bom ou de ruim. Quando vi meu pai inconsciente sobre a cama, também vi, em sua inércia, a vastidão do existir: em seu corpo fragilizado, perfumado por sabonete pom-pom, pulsavam todas as felicidades e infortúnios que ele viveu, e que foram, em seu momento, a grande chama da vida. Então entendi que a força ainda estava lá, e que até a morte é a vida acontecendo.

Quanto valor, quanta potência pode caber na vontade? Quanto vale a vida de cada um de nós, e o que é, exatamente, que a faz valer? Qual a medida do homem, que pode ser tanto... e ao mesmo tempo tão pouco?

Então penso na rede interminável de sentimentos, querências e batalhas que nos compõem, que fazem de nós seres humanos. Em tudo o que estamos envolvidos, em todas as pessoas que fazem parte da nossa história, em todas as esperanças que regamos no jardim: isto é o que somos! Penso em cada artéria, em cada movimento das válvulas , cada batimento cardíaco, cada célula que nasce ou morre... em todos os milagres necessários para que possamos, simplesmente, respirar ou tomar um copo d´água. A vida é grande demais!

Mas então olho para o outro lado, e vejo as coisas por um ângulo distinto.

A nova perspectiva me mostra o quanto as nossas dores, naquela UTI, eram pequenas diante das dores terríveis do mundo. O quanto era quase ingênua, a minha tristeza, diante da carência absoluta dos que nunca tiveram um pai pra chamar de seu... e eu tenho. O quanto a morte de um homem não é nada diante de todos os outros que morrem, no mesmo instante. O quanto não somos nem mesmo poeira cósmica, neste universo infinito, ao passo que nosso egoísmo apequena o mundo e faz de nós gigantes distorcidos: somos gigantes diante da nossa própria mirada. O que pode haver de tão selvagem na natureza quanto acreditar-se mais merecedor que alguém?

Neste clubinho imaginário, onde, como enxergou Charles Darwin, somos todos iguais, penso no quanto Deus, lá de cima, deve mesmo ter pena de nós.

 
A morte do Quixote, pelas mãos do incrível desenhista argentino Miguel Rep, que captou como ninguém a transformação do cavaleiro e a tristeza do Sancho,  fiel escudeiro.

Leia também:
Não dê asas ao Gremlim que existe em você

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O poeta mineiro também fala por mim

Fabrico uma esperança
Como quem apaga algo sujo num muro,
E ali, rápido, escreve:
Futuro!

(Emilio Moura,  1902/1971)


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Volto às palavras do Marcos Lúcio

Ando sem ter o que dizer, talvez porque ande sentindo demais: e quando os sentimentos transbordam, as palavras se afogam... ou, na pior das hipóteses, elas vêm com tanta força nas tintas, que é melhor deixar pra lá e ficar em silêncio. Então, mais uma vez, faço minhas as palavras do Marcos Lúcio, que de novo merecem ser divididas e guardadas... estas sim, cooloridas com exatidão:

QueriDannemann Fernanda...continuando a corrente de solidariedade, pois o assunto continua este, como sói acontecer até que as coisas fiquem mais acomodadas ou menos incomodadas? Seu belo poema, é uma das formas dignas de saber ou tentar lidar com perdas, sem desistir jamais , uma vez que é possível aprender a caminhar mesmo sobre o leite derramado, pois a vida segue e não para que nos ajustemos a ela, não é mesmo? Portanto, impossível ganhar_de fato e espiritualmente_ sem saber perder; aprender a andar sem as inevitáveis quedas; acertar sem, antes, errar; viver sem aprender a reviver (e olha que muitos só existem, ainda não vivem...). Nossa glória e triunfo sobre as adversidades _principalmente aquelas que jogam com variáveis totalmente fora do nosso controle_ consiste em levantar todas as vezes em que for possível ou necessário não se deixar abater, muito menos ficar inerte ou acomodado ou acovardado. Bem aventurados aqueles que, com maturidade, experiência e sensatez, conseguem receber com naturalidade _que é absolutamente diferente de querer ou gostar_ o ganhar, o perder, o acerto, o erro, o sucesso e o fracasso, que são instâncias naturais para qualquer vivente. Provado está que, não aceitar o inevitável ou as imposições inegociáveis do destino, em nada modifica a desagradável realidade.Apesar de todos os pesares...vale a pena o atrevimento de sermos felizes, de sermos o que quisermos, de fazermos o que decidirmos (se pudermos...)e de viver intensamente cada minuto como sendo o último, e único, porque nada está garantido, ou se repete do mesmo jeito. E a vida? É tão frágil!, impermanente, circunstancial, imponderável, e às vezes absurda, que para morrer é bastante estar vivo.

O medo ou a não aceitação da inexorável finitude não impede, não posterga e nem evita que ela ocorra...portanto, só nos resta viver da melhor forma possível...pois não há ensaio, nem bis (lucidamente, ninguém se recorda de como ou onde já viveu... ou se reencarnou, e não estou negando esta possibilidade, sou um humilde aprendiz). Como não sei fazer poema ou canção, (sou cidadão simples, de poucos talentos...) dou voz ao rei das letras, sabedro de que você também dele é fã.
Medo da morte? - Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
Medo da morte?
Acordarei de outra maneira,
Talvez corpo, talvez continuidade, talvez renovado,
Mas acordarei.
Se os átomos não dormem, por que hei-de ser eu só a dormir?
Carinhoso abraço procê.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

E já que o assunto tem sido esse...

Visita
(novembro 2006)

Às vezes, a falta da minha mãe dá de doer
e eu fico quieta
espero passar a dor
como se fosse visita que a gente recebe por educação.

É quando eu lembro do bordado inglês
na saia da Primeira Comunhão;
da missa, aos domingos do mês,
e da hóstia, que fazia de mim um parasita
em meio à bondade de Deus.

A minha mãe me ensinou a rezar muito cedo
(eu mal sabia pedir).
Depois, o alívio da confissão.

Foi isso que ficou dela:
a falta
a oração
uma cadeira vazia na sala de jantar
um Sagrado Coração para espantar o medo.

Quando a falta dela se senta à mesa
eu calo tudo
menos a reza.

E janto a tristeza.

(Fernanda Dannemann)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Não dê asas ao Gremlim que existe em você

-- Vamos falar mal de alguém?

Meu amigo Marlon, gente finíssima, escuta isso e começa a rir. É um cara inteligente e entende que ando “rebelde”, às vezes raivosa, às vezes... sem boa-vontade com nada nem com ninguém.

Meu marido sempre ri quando diz que sou “horrorozinha” porque me recuso a "dourar a pílula": de vez em quando me manda lavar a alma num blog super legal, o “Alma Lavada”, escrito por uma jornalista ultra zen. E meu grande amigo, o Miglia, é outro que acha graça nas minhas “maldades”... não passo mesmo a mão na cabeça de ninguém. (Nem na minha!).

Pois olha, eu confesso: sou um ossinho duro de roer. Um ossinho que tenta bancar a cartilagem, mas que, lá no fundo, sabe muito bem que é osso mesmo. Então faz psicanálise, reza pra Nossa Senhora, tenta a ioga, a homeopatia, lança blog, elege até o dia do jejum e do voto de silêncio, que é pra ver se sua natureza se adapta... e evolui.

Mas então... no correr eterno do tempo e da natureza... alguma coisa acontece, um tsunami pessoal, um terremoto interno. Agora é que são “elas”: atravessar a fome que pão nenhum aniquila... sem perder a civilidade e o que há de bom no coração.

Por que será que somos assim, meu Deus? Estes gremlins à beira da transformação, cada qual com seu rei dentro da barriga, e com dores que certamente são as maiores do mundo, e com razões que, obviamente, são as mais certas de todas, e com necessidades, claro, mais urgentes entre as possíveis?

Quando pescou o lance, Oscar Wilde nem tinha ouvido falar de gremlin e de Steven Spielberg, mas tratou logo de se adiantar: para tratar das pequenezas da alma, usou seu personagem, o lindo e jovem Dorian Gray, que não envelhecia nem perdia a beleza porque tinha um providencial retrato que pagava o pato em seu lugar... eu, particularmente, acho que os gremlins têm tudo a ver com a alma humana, e bem mais que o nosso Dorian Gray, inclusive por não serem humanos. “Humana”, no sentido pleno e grande da palavra, só a alma da Santa Teresinha do Menino Jesus... nós, aqui bem abaixo, estamos mais é pra gremlim mesmo.

E quando a coisa vai mal e o cinto aperta, ocorre a metamorfose, porque é aí que a gente se dá ao direito de virar uma pessoa pior, já percebeu? Como se o mundo tivesse a obrigação de cantar um “nana, nenê” enquanto a gente faz má-criação... como se o universo tivesse que nos compensar pelo que padecemos.

No caso dos mais evoluídos, a tentativa de sofrer com dignidade periga virar anemia, por causa do esforço extra para sentir dor sem ferir ninguém... ai, o egoísmo!

É muito fácil ficar insuportável, tornar-se amargo, beber o veneno da revolta... e azucrinar o marido, brigar no trânsito, explorar a diarista, xingar o vizinho, bater no filho, chutar o cachorro, estourar o cartão de crédito, comer o estoque inteiro de chocolate das Lojas Americanas.

Difícil, mesmo, é calar a dor de estômago e aceitar a vida como ela é. Pedir desculpas ao marido, domar a besta-fera interior, tranqüilizar as águas da revolta. Entender que sim, somos gremlins, mas nem por isso precisamos entregar os pontos... e virar monstro.

 
Todo cuidado é pouco pra não ficar assim!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A sua alma tem penas?


Meu marido sempre defende o ser humano, quando digo que ele é mesmo um pobre coitado. Mas não tem jeito: para onde quer que eu olhe, com minha super lente observator feelings, que ganhei do presente dos meus amigos Calvin & Hobbes, pesco um sentimento, aqui e ali, que me remete a um Oceano Pacífico em cada coração.

Estou ficando tão “fera” neste exercício, que às vezes nem preciso do observator feelings: a olho nu mesmo, basta um pouquinho mais de atenção sobre quem quer que seja e pronto! A água salgada do marzão começa a subir, como maré a duras penas contida.

E por falar em penas, era delas mesmo que eu queria falar. Com tanta água represada no peito, correndo nas veias junto com o sangue, com tanta água de choros que tivemos que engolir, que beber forçosamente, que esperar evaporar, que torcer para que fosse absorvida pelo pó essencial que nos compõe, com tanta água onde por tantas vezes já nos afogamos, talvez o mais difícil de tudo seja podar as peninhas que vão nascendo naturalmente, silenciosas, sobre as escamas da nossa alma.

Não, não se surpreenda: a alma tem escamas, porque aprendeu a nadar.

Não ter pena de si mesmo: a dignidade está aí, tanto quanto no entendimento de que a dor humana é igual em todos, e o dente que dói em mim dói em você também, e o luto que escurece a minha casa escurece a sua. No entanto, ficar triste é uma arte que não dispensa a alegria momentânea, a alegria da fé no futuro, na convicção de que a vida é linda mesmo quando o pai da gente morre. O que pode haver de mais bonito que este amor que não se rompe, nem mesmo sob a força das águas de um Oceano Pacífico inteiro de susto e solidão?

Quando a tristeza vier, não finja que não tem ninguém em casa. Melhor a minha velha receita do café com bolo, do bate-papo na varanda. E mesmo que ela seja daquelas visitas chatas que tardam a ir embora, e nos esgotam, tenha gentileza com ela e consigo mesmo, porque até pra sofrer a gente precisa da gentileza... caso contrário a dor vira mutilação. E o primeiro braço a ser mutilado, tenha certeza, será o da esperança.

domingo, 4 de setembro de 2011

Obrigada, Marcos Lúcio!

Divido com vocês o ombro amigo deste leitor fiel que é o Marcos Lucio Pinto, que com suas sábias e carinhosas palavras, confortou meu coração: sugiro guardá-las para um momento de necessidade, já que a morte está aí como lição para todos nós.


Queridannemann Fernanda...farei dois posts pois tenho muitas palavras de carinho ou estímulo.Embora lamentando profunda e respeitosamente seu delicado momento, não posso e nem devo deixar de comentar que alguns de nós sabemos que a vida é para ser desbravada dia a dia, sem ensaio, sem receita, sem bússula , sem regua e compasso e, claro, sem bis, além de estarem, nela, sempre em jogo, inúmeras variáveis nem sempre controláveis; a morte _que entendo como transformação_ é somente uma delas.

A sabedoria popular, inclusive, afirma, pletora de razão, que "a vida é combate que os fracos abate". Não custa lembrar que pesquisadores evolucionistas acreditam que herdamos a tendência de perceber o negativo de forma mais rápida ou intensa que o positivo (chance de sobrevivência, porque as mudanças constantes podiam sinalizar perigo). Ato contínuo, como nossos ancestrais distantes, temos cérebro programado _preferencial e naturalmente_ para perceber problemas ou desprezar experiências positivas e focalizar os aspectos mais desestabilizadores da vida. Isto não impede, entretanto, que nos aprimoremos ou refinemos para valorizar mais o que possuímos, ao invés de lamentarmos pelo que nos falta. Assim, mudamos nosso olhar ou sentir sobre a existência e seus inevitáveis dasafios e contratempos, para que possamos abandonar o ilusoriamente "confortável" papel de vítimas e assumir a responsabilidade como artífices do nosso destino_pelo menos da "parte que nos cabe neste latifúndio" do eterno viver.

O que fazer então pra lidar com as dores, sem ficar tão doído?
Podando a nossa plantação de vaidade e orgulho e cultivando mais a humildade. A humildade nos leva a sermos somente “seres humanos” que estão nesta vida pra amar, ganhar, perder, sofrer, crescer, cair, levantar, viver e morrer. A vida flui, pulsa, sobe e desce. Devemos entrar neste ritmo imutável e constante , e, pra cada dor e descompasso, nos curvarmos humildemente, percebendo que é mais uma lição que faz parte do nosso_ sem exceções_ processo evolutivo. A gente gostando ou não...

Quando a vida nos causa a inescapável dor, claro que deprimimos, angustiamos e brigamos com o real e com ela (que é real e de viés, salve Caê!). O que não podemos é ficar neste embate permanente com a vida, querendo vencê-la. Tolice nossa... Ela, além de ter vida própria,e à nossa revelia, é infinitamente mais poderosa, afinal, entre a caça e o caçador, vence a natureza, "bien sûr"!!!
Precisamos respeitar a vida e saber que realmente ós seres humanos, quando não aprendemos através da aceitação radical do que não depende exclusivamente de nós, a dor vem e nos dá uma lição. Assim, a dor (nossa e do outro) serve pra nos chacoalhar, nos cutucar e nos empurrar pra frente.Só chaleira fervendo é que levanta a tampa (Clarice). As pessoas que não fazem bom uso de sua dor ficam doídas e doidas, sim. Mas só por um tempo. Aos poucos elas passam a fazer bom uso dessa dor, criando, mudando, transformando, ajudando...E aí a dor, enfim, cumpriu sua função ou seu propósito cósmico Superior.

Todos nós, seres provisórios, imperfeitos, inconstantes e impermantes, temos, também e inexoravelmente, prazo de validade....Fé em Deus, que as coisas, todas, passam e melhoram...não há febre alta eterna e nem vela que não se apague...Pense de quantos problemas você já saiu, mais forte ou mais experiente... Como o Nandinho nem o Machadinho deram conta, vale tentar de novo e citarei o genial escritor Rainer M. Rilke: "Quem observa com seriedade descobre que, assim como para a morte, que é difícil, também para o difícil amor não se reconheceu ainda nenhum esclarecimento, nenhuma solução, nem aceno, nem caminho.....nunca se achará uma regra comum baseada em um acordo./ Precisamos aceitar a nossa existência em todo o seu alcance; tudo, mesmo o inaudito, tem de ser possível nela. No fundo é esta a única coragem q se exige de nós: sermos corajosos diante do q é mais estranho, mais maravilhoso e mais inexplicável entre tudo com q nos depararmos".

Se não for demais, e sei que exorbitei e exorbito no palavrório rsrs... citarei, tb, meu adorado psicanalista Eduardo Mascarenhas: " Ao contrário do corpo, a alma pode sofrer as maiores violências e se recuperar...Podem sangrá-la, podem feri-la, podem deixá-la à míngua, q ela parece q morre, mas na realidade não morre nunca. Pior q rabo de lagartixa, nossa alegria de viver volta sempre a renascer.É isso q descobrem aqueles q não desistiram nunca....Ao descobrirem a ressurreição das almas, adquirem uma inquebrantável confiança".

Se tudo isto não servir de um pequeno alento, um empurraozinho sequer, ou uma leve brisa que, por intantes... permita uma sensação de alívio no sufocante deserto das emoções, agora em desalinho, resta a receita, que usei em várias circunstâncias e ainda uso e usarei, que julgo infalível (embora "cada caso seja um acaso"). Ainda com mais convicção... sabedor de que outro, com mais idade e experiência, usou e teve bons resultados. Melhor, ainda, é que a reconheci em um blog de uma talentosa e gladiadora jornalista/escritora , por quem eu nutro uma profunda admiração, ainda que à distãncia... física, não do coração. Divido ou compartilho e aconselho você mesma a segui-la, ao pé da letra,ok?

"Meu pai me inspira a vontade e a garra de viver porque é um lutador acima de tudo, um sobrevivente que jamais teve pena de si mesmo. Um combatente incansável diante das lutas que travou em seus 78 anos. Um vencedor pelo simples fato de não entregar os pontos nem mesmo diante das maiores dores e decepções. Um batalhador que viveu em busca da alegria de ser grande dentro de suas possibilidades. Um verdadeiro gladiador diante das adversidades".

Também aqui, vejo seu promissor processo: "fico contente ao ver os botões prestes a nascer: é tão difícil manter as violetas em flor! Mas eu consigo"..e vai conseguir reflorescer sua vida violeta... mais e infinitas vezes, se Deus quiser.
CQD (ah! os teoremas)...esteja certa: a alegria está prontinha, bela e perfumada para, mais à frente, reencontrá-la, diamantinamente, como você merece. Continuo na torcida vigorosa e sincera, pelo seu restabelecimento, desejando saúde, paciência, aceitação radical, serenidade, muita sorte, fé, e muita luz.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Como renascem os órfãos?


Vou ao shopping lamber vitrines. Adoro experimentar todas aquelas coisas que já sei, de antemão, que não vou comprar. E, de repente, numa decisão inesperada, faço um investimento na autoestima...

Mas hoje, nem isso me anima, e chego a me sentir ridícula nesta tentativa frustrada de voltar ao mundo das frivolidades humanas... que também são parte da alegria da vida.

Então, naquela cafeteria que evito, porque o colesterol anda alto, peço um café com leite, muito açúcar, e aquele bolo de laranja, bem gordo.

Mas minha boca transforma tudo em areia.

Volto pra casa: na maciez da minha “nuvem”, o sono não dá as caras. Mandou avisar que foi passear no Paraguai.

Meu marido dorme ao lado, e me aconchego a ele na tentativa de unir-me novamente a este mundo, este mundo que ficou tão diferente. Ligo a TV, chamo o Fernando Pessoa, recorro ao Machado de Assis, ao Gabriel García Marquez... ninguém me acalenta este vácuo, este corredor vazio e sem fim que de repente se abriu à minha frente, como um caminho único e obrigatório do qual não posso fugir: esta agora é a minha estrada.

Passeio pela casa, ouço o relógio, olho de relance aquela poltrona tão vazia, onde meu velho costumava ficar por horas... as violetas imploram por água em seus vasinhos, e fico contente ao ver os botões prestes a nascer: é tão difícil manter as violetas em flor! Mas eu consigo.

O tempo anda muito lento ultimamente, e meu estômago dói. A vida parou por uns dias, e no espelho, o rosto que vejo não é o meu, nem sou eu esta pessoa ferida que tem andado por aí: este é o rosto e o andar de todos os órfãos do mundo.

Faço uma ponte ao futuro, miro bem lá adiante, bem além deste corredor estreito que tenho atravessado: o sol, um dia lindo, a vida em flor no meu coração...

Então dou mais um passo, na certeza de que a alegria me espera por lá.