quinta-feira, 6 de outubro de 2011

"O tempo nos destròi por fora e nos constròi por dentro"

Hoje conheci duas mulheres incrìveis: Tita Merello e Nacha Guevara. Atrizes talentosas e apaixonadas, me levaram por uma viagem emocionante atravès do tempo e de uma Buenos Aires que eu náo conhecia, onde a boemia da Avenida Corrientes colore com màgica tudo o que os olhos vêem. Ao final de duas horas e meia de um musical de primeirìssima linha, com roteiro, figurino, coreografias, vozes e orquestra irretocàveis, senti-me agraciada pela emoçáo da noite.

È incrìvel como o teatro, quando è bom, pode mexer com a gente. Incrìvel como os atores abrem caminho para chegar ao coraçáo da plateia, e conseguem puxar o fio dos sentimentos... para alcançar a grande vitòria da arte: mudar alguma coisa pra melhor, nem que seja no peito de um sò espectador. Eu, pelo menos, saì do Teatro Metropolitan com meu coraçáozinho voador em plena atividade... batendo as asas!

Tita Merello nasceu em 1904 e faleceu aos 98 anos, depois de uma carreira de sucesso no cinema argentino, de uma paixáo insuperàvel e de triste fim, e de recolher-se ao isolamento em seus ùltimos anos. Geniosa, sofrida e vivìssima por natureza, foi uma mulher à frente do seu tempo: náo teve medo de ser feliz nem de ser triste.

Nacha Guevara, reconhecidìssima na Argentina atual, náo fica atràs: tem mais de 40 anos de carreira, jà viveu e trabalhou em diversos paìses e, tanto quanto Tita, náo teme dizer o que pensa ou defender suas ideias. Por isso mesmo, precisou exilar-se no exterior durante a ditadura. Ao voltar, foi recebida de braços abertos pelo pùblico, que náo a esqueceu.

Da plateia, entendi o motivo. Nacha "arrebenta" ao apresentar-nos Tita Merello, que por sua vez confidencia jamais ter estudado artes dramàticas: "o que aprendi sobre o drama foi na Avenida Corrientes, quando passei fome e náo tinha onde viver".

Ao final, jà velhinha, Tita me deu a ùltima liçáo da noite:

-- O tempo nos destròi por fora e nos constròi por dentro.

Meu coraçáo se apertou e meus olhos se encheram de novo: foi de emoçáo que chorei desta vez.


Nacha recebe flores e o aplauso da plateia, ao fim de duas horas e  meia como Tita

Veja um trecho do musical no link abaixo:
Tita, una vida en tiempo de tango

2 comentários:

  1. Queridannemann...nem sei como agradecer a emoção genuína que senti, ao clicar, por iluminada sugestão sua, no link para ver um trecho do , sem dúvida alguma, excepcional musical, em todos os sentidos. Parece que eu estava lá, sim, minha alma, certamente. Digo isto porque, latinoamericano, graças a Deus, não só para o Belchior, especialmente para mim, "por força deste destino um tango argentino me vai bem melhor que um blues".Estou quase em êxtase com a beleza de evidência solar que pude apreciar nestas poucas, marcantes e inesquecíveis cenas.Meus olhos transbordaram de felicidade. Acrescento que estou com vontade de ir lá, principalmente para ver esta maravilha ímpar. É possível comprar ingresso com alguma facilidade? Ou de cambistas, se os há naquelas paragens.

    Todo este frisson, explico melhor, justamente porque a arte (somente a verdadeira e de excelência), depois da fundamental saúde, é a uma das maiores razões ou alimentos para a alegria do meu espírito...assim como as exuberâncias da natureza e as verdadeiras amizades, "bien sûr!". Utilizarei, então, para ficar mais chique rsrs...ou mais lúcido?!, as fulgurantes e talentosas palavras de uma das personalidades mais significativas da vida brasileira, o senhor Hélio Pellegrino (que Deus o tenha!)"O artista criador, em seu mergulho poético, ordenha leite da escuridão, isto é, toma contato pleno com o registro inconsciente de sua atividade mental, cujas fantasias e desejos nem sempre são redutíveis ao tipo lógico-discursivo de conhecimento que caracteriza a atividade da consciência.O artista criador é explicado pela obra que faz, muito mais do que é capaz de explicá-la.O Borjalo, p.ex., é talento fulgurante, e como tal, é condenado à criação artística. Sujeitado, o criador não escapa ao destino que o persegue.

    É que arte é servidão apaixonada, ofício duro do qual não escapam os verdadeiros__e poucos__
    escolhidos.

    O sujeito, na paixão e na paciência, levanta vôo e desfere seu canto: pela poesia, pelo desenho, pela música, pela dança (acrescento pela fundamental e salvadora literatura). Com isto
    torna-se sujeito verdadeiro, fonte de significação do mundo(...)para os famintos dos frutos da terra e do rumor do Absoluto, cuja presença encrespa _e atravessa_todas as coisas".
    Obrigado pela preciosíssima dica e beijão "procê".
    Marcos Lúcio.

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  2. Grande guerreira blogueira...ainda não estou convencido de que o tempo que nos destrói por fora é o mesmo que nos constrói por dentro. Não assim, consequente, linear e necessariamente. Por outo lado, se nos esforçarmos
    - diuturnamente _ para o fundamental amadurecimento (muitos se tornam crianças velhas e rabugentas, sem a menor maturidade), fazendo com os próximos o que conosco gostaríamos que fosse feito, e , melhor, buscando novos e consistentes e formadores aprendizados, tenho convicção íntima de que nosso edifício interior estará mais sólido e resistente aos inevitáveis furacões existenciais, dos quais ninguém escapa (assim como da morte). Pena que não posso ou pude assitir a este belíssimo espetáculo e agradeço a oportunidade , graças a você, de ter visto cenas tão ricas e emocionates.
    Abraços e boas sortes.
    Márcio

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