quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Pra ser feliz, mulher não precisa ser Maravilha nem Bombril

-- Sabe o que eu desejo pra você? Três filhos, porque dois é muito pouco; uma casa na praia, com varanda de ponta a ponta e uma boa empregada, pra que você não precise limpar tudo sozinha... e um marido que chegue todas as noites com uma garrafa de vinho debaixo do braço.

Eu tinha mais ou menos vinte anos quando minha mãe me disse estas palavras, e estava naquele momento da vida em que a gente é muito jovem e quer conquistar o mundo com a faculdade, o diploma, a força de vontade e o futuro incerto e cheio de surpresas... no qual a gente só enxerga oportunidades.

Outros vinte anos se passaram, eu não tive os filhos, não tenho a tal casa na praia nem a super empregada que ela sonhou pra mim. Passei a maior parte deste tempo correndo atrás dos tais “ganhos” que, dizem os mais experientes, as perdas nos presenteiam... quando a gente sabe (e está a fim de) brincar de “biscoitinho queimado”.

Alguém se lembra dessa brincadeira, o biscoitinho queimado? Lá em Minas era muito comum na Páscoa, quando os pais escondiam os ovos e, enquanto a criançada procurava pela casa inteira, eles iam sinalizando:

-- Tá frio! Agora tá esquentando... tá quente... tá fervendo!!! Achou!

Então, escolhi uma profissão que me ajudasse nessa minha busca pessoal, já que os jornalistas podem dar um jeito de entrevistar quem quiserem. E foi assim que me aproximei de muitas daquelas pessoas cujos livros eu lia, desde a adolescência, e admirava. Como minha primeira entrevistada, pra um jornal literário que já não existe mais, escolhi uma escritora feminista que eu adorava... e foi uma decepção, porque descobri que ela, na verdade, era rude e preconceituosa. Além de me tratar rispidamente e apontar todos os erros que eu cometia durante a entrevista, disse que, se sua filha quisesse ser uma simples dona de casa, ela teria um treco, acharia um absurdo e um desperdício!

Saí da casa dela sem saber onde estava aquela mulher incrível que eu lia nos livros, e que escrevia sobre a liberdade com a mesma paixão com que dissertava sobre o amor... o que teria havido com ela? Eu era novinha, mas apesar da minha juventude, questionei aquilo: quer dizer que a gente agora tem a obrigação de “usufruir” dos direitos a vestir o uniforme de executiva, trabalhar, botar dinheiro dentro de casa? E temos, obrigatoriamente, que ser “independentes”? Ser dona de casa virou coisa de gente “menor”? Optar por uma vida sem o “glamour” dos terninhos, das reuniões, da agenda lotada, do estresse, do salário e da falta de tempo pra mais nada é “desperdício”? Em nome de uma “carreira”, devemos mesmo deixar que as babás ou as creches criem nossos filhos, e que eles nos considerem um parente distante em vez daquela mãe presente com a qual todos nós, lá no fundo, sonhamos?

Talvez eu já tenha contado isso em algum post, mas uma vez, conversando com o escritor Fernando Sabino, ele disse que a única coisa que as mulheres tinham conquistado com a Revolução Feminista era o direito de ficar de pé no ônibus. Nós rimos, e eu rio disso até hoje, porque entendo o que ele quis dizer, e realmente acho que, de certa forma, tinha razão: por mais que os homens estejam se tornando “femininos”, participativos e eticétera e tal, as obrigações domésticas e relacionadas aos filhos ainda são, sim, das mulheres. Se o menino ficar doente e um dos dois tiver que faltar aquela reunião importantíssima no trabalho, não se engane: será a mãe.

Vou te dizer uma coisa: ganhar seu próprio dinheiro é sim, fundamental, e é maravilhoso. Ser dona do seu nariz, ser livre, ser autônoma. Mas olha, a verdade, mesmo, é que a autonomia está na cabeça e pouco tem a ver com tutu. Já vi mulheres duras e realmente livres e independentes; já vi as que ganharam muito dinheiro trabalhando e que piraram quando o marido partiu pra outra. A mulherada hoje em dia parece ter vergonha de bater um bolo, de fazer um café para o marido, de deixar que ele pague as contas da casa, e até de ser mulher em tempo integral, sem essa de bancar a Mulher Maravilha, que também é Bombril e tem mil e uma utilidades. Não pense que para ser respeitada por um marido (ou por quem quer que seja) você precisa ter dinheiro: você precisa, sim, é ter dignidade.

Outro dia ouvi de uma amiga, separada e rica:
-- Tá vendo, Fernanda? Tenho este tremendo apartamento, posso viajar pra onde quiser. Mas à noite, não tenho ninguém pra me fazer um cafuné.

Saber que casamento não é profissão e marido não é parente (minha mãe também me disse isso) e ter nossa própria vida, nossos sonhos, planos, projetos, profissão, dinheiro, autonomia... nada disso impede que a gente tenha, também, um prazer imenso em ser mulher dentro de casa e mulherzinha quando o marido chega. A mulher que tem vergonha de ser o que é e de desempenhar, feliz da vida, o seu papel, está condenada, lamento muito, a ser infeliz... porque amar é bom, namorar é ótimo e “cada um no seu quadrado” é uma verdadeira delícia! Esta foi a grande lição de felicidade que a minha mãe, sábia mulher, me ensinou, e que realmente vem sendo decisiva para minha plenitude e alegria. De tudo o que ela sonhou pra mim, conquistei o mais importante, e esta é a minha grande vitória como mulher.

Este aqui eu entrevistei também, e ele sabe das coisas:

10 comentários:

  1. Fernanda, você é mesmo muito, muito especial...
    Um beijo,
    Mariza.

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  2. Mauro Pires de Amorim.
    Tive dois relacionamentos mais longos e duradouros em duas ocasiões distintas em minha vida e sempre considerei minhas duas "esposas" maravilhosas, com suas qualidades e defeitos.
    No entanto, por vezes os relacionamentos acabam e as pessoas se separam, faz parte da vida e as pessoas tem que ser livres e se sentirem livres para seguirem seus caminhos e rumos, sem se sentirem pressionadas e perseguidas. Os incomodados que se retirem.
    Felicidades e boas energias.

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  3. Adorei, queriDannemann, ler a palavra "tutu" que só os mineiros usamos ...os de boa cepa, claro! Quanto à autonomia que é menos uma questão financeira e muito mais de dignidade ou auto-estima, fecho com você. O fato da escritora feminista defender teses incongruentes com a sua forma rude e preconceituosa de lidar com a vida, lamentavelmente, é quase comum. Pessoas dizem uma coisa, pensam outra, fazem outra, escrevem outra e sentem outra e todas as coisas quase que completamente diferentes. A velha história do faça o que eu digo, mas não o que faço, é nossa conhecida de tempos pristinos. Falar, pensar, fazer, escrever e sentir quase a mesma coisa é privilégio de raríssimos: dos coerentes, sensatos, maduros e respéitáveis.

    Toda mulher que tiver vergonha de ser o que é, e , de resto, qualquer mortal, receberá o passaporte existencial com o carimbo definitivo da infelicidade.Não se nega o que se traz por dentro, ou melhor, o importante é não negar em nada a (nossa) nutureza na sua inexorável soberania.

    Realmente, o casamento, além de não ser profissão, também não é obrigação. Se, cada qual no seu quadrado _ respeitando o espaço ou a liberdade alheia_, tiver a consciência de saber "a dor e a delícia de ser o que é", e administrar ou negociar, com bom senso, as necessárias concessões de ambas as partes, a maioria dos problemas de coexistência estarão resolvidos, com toda certeza.
    Boas vibrações, santé e axé
    Marcos Lúcio

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  4. Marido não é parente nem casamento profissão. O mais engraçado é que a gente dentro do cesto, por mais que negue, não consegue e nem pode viver dentro deste conceito, sob pena de não dar partida no carro.

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  5. Hoje mais cedo, escreví para o blog Rio Acima, do Marcelo Migliaccio, relatando a situação catastrófica do Município de Nova Friburgo, RJ. Meu comentário ainda não foi publicado.
    Contei, que além das consequências da enxurrada de 12 de janeiro, inclusive para a economia local e que perduram até os dias de hoje, afetando empresários e seu trabalhadores, há também a instabilidade político-administrativa, com o afastamento de diversas autoridades do poder municipal, envolvidas com corrupção.
    Fora essas ocorrências, recentemente houve o mal fadado Serra Sons Festival, evento que envolveu artistas conhecidos da música brasileira e que foi produzido por Nelson Rodrigues dos Reis Filho e Anderson Terra Pomar, que apresentaram-se em tal município como ecologistas e produtores artísticos, usando respectivamente suas pessoas jurídicas, a OMA-BRASIL (entidade ecológica do tipo ong) e a Cartão Postal Editoria e Publicidade Ltda. (entidade midiática e produtora artística). Os produtores de tal evento, após o 2º dia de festival, fugiram da cidade na calada da madrugada, deixando mais de 1,5 milhões de reais em dívidas.
    Como sou advogado, tomei conhecimento do ocorrido por intermédio de clientes daquí do Rio de Janeiro e que adquiriram ingressos para todos os dias do evento, bem como estadia pelo período de 10 a 16 de novembro, uma vez que o evento estava programado para o período de 11 a 15 do mesmo mês.
    Estou em contato com a imprensa local, especificamente o jornal A Voz da Serra, por intermédio da sra. Angela Pedrotti, que vem a ser a Editora-Chefe, inteirando-me da situação no município.
    Na verdade, esse meu comentário deveria ser encaminhado para sua postagem posterior, numa alusão à Cigarra e Formiga, mas como cometí erro, acabei enviando-o para essa.
    Sinceros desejos de felicidades e boas energias.

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  6. Mauro Pires de Amorim.
    O comentário acima, sobre os acontecimentos em Nova Friburgo, RJ, são de minha autoria, mas como quando fiz-lo, estava um tanto apressado para dar cumprimento aos meus afazeres, que esquecí de me identificar e da mesma forma, acabei enviando-o para essa sua postagem anterior, conforme mencionei no próprio comentário referido.
    Felicidades e boas energias.

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  7. Oi, Mauro! Sim, eu já conheço seu jeito de escrever e identifiquei a autoria. Se estivesse na "grande" imprensa, acho que trabalharia este fato, mas no momento sou apenas uma blogueira. Felicidades e boas energias pra você também!

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  8. Mauro Pires de Amorim.
    É claro que eu entendo Fernanda. Também procuro fazer meu melhor, minha parte, sempre o que estiver ao meu alcance. Penso que é esse tipo de pensamento e energia que as pessoas tem que ter para motiva-las na vida, a disposição de combater o bom combate.
    Sinto o mesmo ao seu respeito e do Marcelo Migliaccio, por esse motivo, trouxe a situação de Nova Friburgo, RJ, à baila. Não somente referente ao ocorrido com o Serra Sons Festival, que no caso interessa-me particularmente no que tange aos meus representados, enquanto advogado, mas interessando também à todos os lesados por esse episódio, que já está na esfera judicial, por meio de Ação Cautelar de Tutela Coletiva, com pedido de liminar de bloqueio dos bens dos produtores do evento, concedido pela justiça em Nova Friburgo, RJ e movida pelo órgão do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), também em Nova Friburgo, RJ, estando portanto tal situação relativamente encaminhada. Mas também, quis trazer à vocês, que são os jornalistas mais próximos que tenho contato, o panorama das demais situações naquele município.
    Sinceros desejos de felicidades e boas energias.

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  9. Mauro Pires de Amorim.
    Cometí erro, a ação judicial contra os produtores do Serra Sons Festival, na verdade é uma Ação Civil Pública (ACP) com pedido cautelar feito liminarmente pelo MPRJ, por meio da Promotoria de Justiça da Tutela Coletiva, em Nova Friburgo, RJ e o pedido cautelar feito liminarmente foi concedido pela justiça, também em Nova Friburgo, RJ.
    Felicidades e boas energias.

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