quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A trágica libertação pelo suicídio

(Publicado no Jornal do Brasil em 12/11/2010)

Quanto mais conheço a respeito da vida das mulheres afegãs, mais graças a Deus eu dou por ter nascido no Brasil.

Digo o mesmo a respeito das iranianas.

Se já não é fácil ser mulher num país democrático, onde eu posso votar, onde posso me divorciar, onde tenho chances de estudar, arranjar um emprego e viver sozinha, se quiser...onde não sou obrigada a reverenciar ninguém simplesmente por questões de gênero, nem tenho que baixar a cabeça para o desrespeito, a violência e a segregação... imagine o horror de viver num país onde a mulher não vale absolutamente nada, onde ela não tem vontade, direitos ou necessidades, onde não pode dizer não em hipótese alguma, onde não há nem mesmo possibilidade de fuga!

E você, que é homem, ao menos por um minuto coloque-se no lugar delas e tente imaginar o que é viver assim.

Agora mesmo, a iraniana Sakineh, condenada à morte por supostamente ter traído e assassinado o marido, tem sua vida nas mãos de um bando de radicais narcisistas que se vêem como deuses, e que destino pode haver para ela, ainda que o mundo inteiro interceda por seus direitos?

E mesmo que tivesse traído e assassinado, não deveria ser morta pelo Estado, o que acaba oficializando o assassinato. Mas terá mesmo traído e assassinado? E, caso sim, terão sido torpes e fúteis os seus motivos? Imagine como são tratadas as mulheres afegãs por seus maridos ultramachistas que as vêem como lixo, e pela família deles, de quem as esposas, por lei, são meras serviçais! Imagine quanto ódio, ressentimento e vingança as sogras devem despejar sobre suas noras, num desejo perversamente "humano" de "compensação", por tudo o que elas próprias já amargaram!

Não é à toa a onda de mulheres que vêm ateando fogo em si mesmas, no Afeganistão... para fugir da vida de submissão e horror em um país onde doenças mentais ou psicológicas, como a depressão, não são diagnosticadas, onde não há com quem desabafar sobre os maus-tratos sofridos porque é culturalmente vergonhoso queixar-se de problemas domésticos...

Nem fugir elas podem. Mulheres sozinhas no Afeganistão podem ser raptadas, presas ou devolvidas aos maridos, que em geral as matam a facadas.
No Irã, país de Sakineh, a situação, incirvelmente, é um pouco melhor, mas ainda longe do ideal de liberdade: elas estudam, mas dificilmente conseguem emprego remunerado. Vivem sob a lei do apedrejamento; não podem escolher o marido.

Onde é que está o limite entre a cultura, o costume, a raiz... e o abuso, o absurdo, a barbárie?

Se não colaboram com a felicidade e o bem, os costumes estão aí para serem mudados; as tradições, para serem quebradas; as leis, para serem revistas. Lamento que o Brasil não tenha intercedido por Sakineh. E espero que, em vez de bancar o coleguinha de tipos como o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o Brasil faça jus à democracia que é e se espelhe na evolução da França, que proibiu o uso do véu islâmico em locais públicos por entender que este costume subjuga a mulher. Ao meu ver, foi uma grande colaboração com os direitos humanos.

 Zahara, 21 anos, queimou-se em busca de libertação

Um comentário:

  1. Sinceramente, queriDannemann...com toda esta quase misogenia, ou , nas suas palavras: "mulher não vale absolutamente nada... não tem vontade, direitos ou necessidades...não pode dizer não em hipótese alguma", em que pesem as diferenças culturais, penso cá com meus botões: qual a ginástica mental (neuróbica) que os homens fazem para sentir desejo erótico por elas? Será que tomam alguma erva tipo viagra? rsrs, para minimizar o horror que estas infelizes vivem. Como desejar algo que não se admira?

    Se alguém ou algum antropólogo pudesse esclarecer, juro que faria o maior esforço em entender. Talvez seja mesmo a crença de que têm OBRIGAÇÃO MORAL E RELIGIOSA de procriar... longe, evidentemente, do saudável erotismo ou do essencial prazer sexual, não é mesmo?
    Abração, santé e axé!
    Marcos Lúcio

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