quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Entrevista: Marina Paiva

"A verdadeira riqueza que a gente tem é a vida"

Dona Marina é uma vencedora: chegou aos 87 anos muito bem vividos, coisa que não é pra qualquer um... mineira à frente do seu tempo e a favor do casamento, foi namoradeira, mas não quis se casar... preferiu ser independente e morar sozinha, viajar, trabalhar nos Estados Unidos e voltar quando lhe desse na telha, pagar suas contas e ajudar a família... não precisou ter filhos para sentir-se mãe, nem se importou com o que poderiam pensar dela; preocupou-se com o que ela mesma pensava de si. Sábia, generosa e satisfeita consigo e com a vida que cultivou, Marina Paiva é uma lição imperdível de vida.



 
Como é chegar aos 87 anos?
É bom ter vivido todo este tempo e aproveitado a vida. Sempre pensei positivo e esperei pelo melhor, trabalhei muito e busquei tratar bem as pessoas, pensar sempre que todos nós somos iguais. Lembro que tinha um bordel perto da minha casa e eu sempre cumprimentava as prostitutas na rua. Elas chegavam a ficar agradecidas: diziam “essa moça é tão boazinha!”.
 
 
Você foi uma mulher muito moderna para a sua época. Foi muito difícil?
Sempre fui muito livre, mas com honestidade e respeito, e nunca dei importância ao que poderiam pensar ou dizer de mim. Se alguém pensasse que eu era vigarista, tudo bem, porque eu sabia que não era, e isso me bastava. Viajava sozinha, era independente, fui muito bonita e gostava de namorar. A mulher precisa de um homem. Homem é uma coisa muito boa, nem que seja pra espantar cachorro brabo na rua. Você sabe? Não me arrependo de nada, só do que não fiz. Sou muito feliz com a vida que tive.
 
Você teve mais de 50 pedidos de casamento, mas preferiu ficar solteira. Por quê?
Sou a favor do casamento e acho que as mulheres devem se casar, ter filhos, construir uma família. Mas o caso é que eu pensava muito antes de dizer sim. Pensava no quanto minha vida ia mudar e acabava não aceitando. Uma vez fiquei noiva porque o rapaz insistiu demais. Vim para o Rio pra fazer o enxoval e mandei um telegrama desmanchando tudo. No fundo, não queria um marido mandando na minha vida, porque na minha época, os homens eram muito machões. Se fosse hoje, de repente eu casava, porque os homens são mais liberais e agora é muito fácil separar.
 
E a maternidade? Ter filhos é essencial na vida da mulher?
Isso não tem nada a ver, você pode ser mãe até do seu pai, quando ele ficar velhinho. A maternidade é um conceito que pode ser aplicado a qualquer coisa que a mulher crie, faça, desenvolva ou ame.
 
Como você lida com as limitações da idade?
Lido com a doença como se ela fosse passageira e penso sempre que vou melhorar. Procuro preencher meu tempo com coisas que posso fazer e que me dão alegria, senão a vida fica muito dura de ser vivida. Minha sorte é que me vejo querida por todos, até por desconhecidos na rua, que me tratam bem.
 
Que conselho você dá aos mais jovens?
Que comecem a cuidar da saúde agora, enquanto é cedo. Isso é muito importante. Na juventude, não temos idéia da alegria e da força que temos; a gente não pensa que vai envelhecer, que vai precisar dos outros, ficar debilitado e ter uma vida tão diferente. Pra envelhecer bem e com saúde, é preciso começar a se cuidar cedo.
 
 
Hoje, do alto dos 87 anos, como você enxerga os problemas típicos da vida, como falta de dinheiro ou dificuldade de relacionamento?
Você deve tentar sempre resolver seus problemas com as pessoas da melhor maneira possível, sem agressividade ou estupidez. Brigar, só se for pra defender os seus direitos, e assim mesmo, se você tiver certeza de que vai entrar na briga pra vencer. Senão, não vale a pena o desgaste, o aborrecimento, o tempo perdido. E dinheiro é o seguinte: a gente envelhece e entende que ele vem e vai, e que também não vale a pena sofrer por causa dele. Dinheiro nem é o principal, sabia? Família e saúde vêm na frente. A verdadeira riqueza que a gente tem é a vida.



Minha melhor amiga bem poderia ter inspirado o Dorival Caymmi, veja só:



Quem tem 87 já teve seis, olha:


 

8 comentários:

  1. Me identifiquei em gênero, número e grau com ela. :o)

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  2. Fernanda,

    Adorei a entrevista com a Marina Paiva, mulher de fibra, que sem pre soube seu valor e um ser humano para se ter como exemplo. E que ela esta otima. Linda foto.

    Tambem tive na minha vida mulheres como ela ao meu redor, minha mae, tias, que me ensinaram desde pequena, que a saude e a nossa maior riqueza, que o saber nao ocupa lugar no espaco, que a felicidade esta dentro da gente, e nao fora e nem nos outros e que e preciso se valorizar, que temos que respeitar os outros, para tambem sermos respeitados, pois todos nos temos dons, e que todos somos imperfeitos, ninguem e melhor que ninguem ..... e assim por diante ....

    Felicidades.

    Gilda Bose

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    1. Gilda, é uma sorte quando a gente tem mulheres de valor para se inspirar. Tive outras além da Marina, e acho que a mulher que sou hoje é também parte de todas elas. Bjos

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  3. Eu não concordo quando a Marina fala,que na sua época os homens eram muito machões. Pois eles continuam machões até hoje,só que de uma forma disfarçada.

    Monica.

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    1. Concordo com você, Monica, que o machismo continua firme e forte, mas também concordo com a Marina: acho que hoje a vida é mais fácil para a mulher, e além disso existem, atualmente, homens esclarecidos e inteligentes, que não são machistas. A coisa está melhor do que há 50 anos...

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  4. Não sei como, comandei errado o comentário e não apareceu. Repito, então, com outras palavras e reitero: considero esta a melhor entrevista deste blogue (sem desmerecer as demais). O eco que encontro nas palavras da "menina sábia"- respeitosamente- Marina é impressionante...parecem saídas de mim. Pelo menos nestas questões, afino-me pletoramente com ela, assinando embaixo cada palavra dela. Penso que anteriormente, na primeira publicação, eu digitei isto (ou não?!).

    Mas parece que desta vez ela acrescentou:"Se fosse hoje, de repente eu casava, porque os homens são mais liberais e agora é muito fácil separar".
    Mais fácil separar, "oquei", mas homens mais liberais, não sei (e a Mônica não desmente rs). Acontece que as mulheres avançaram muiiiito mais do que os homens em todos os aspectos e o fosso continua parecido, então, pois eles pouco avançaram...pela minha observação do entorno e pelo que ouço das amigas falando dos homens, quase sempre imaturos (tadinhos rs).

    Então, para uma mulher como ela, à frente do seu tempo, tão independente, tão segura, tão individuada,tão madura, tão racional (e tão equilibrada emocionalmente), tão ciente de si, e tão bem resolvida (inclusive morando sozinha), e tão satisfeita consigo... não consigo imaginar motivos para casar. Talvez casada -e nada contra casamento, quem precisar ou gostar que se deleite e cada caso é um caso ou acaso- ela não pudesse dizer: "Sou muito feliz com a vida que tive". Penso que ela fez o melhor casamento, na minha desimportante avaliação: com a santa liberdade.
    Aplausos pra Marina e para a entrevistadora.
    Santé e axé!!!
    Marcos Lúcio

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  5. Oi, tia Má!

    Huguinho, o sobrinho

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