segunda-feira, 17 de junho de 2013

A besta-fera que não cede o lugar no metrô


O absurdo é assim: a grávida, de pé no metrô, passa mal e ninguém lhe oferece o lugar. O cúmulo é ela pedir a um rapaz que lhe ceda o assento e ele consentir, mas já avisando que, quando ela melhorar, quer seu assento de volta. Meu Deeeeeeeeeeus! Mas a que ponto chegamos?
Já contei e conto de novo: lembro do escritor Fernando Sabino me dizendo que o máximo que a mulher conseguiu com o a Revolução Sexual foi o direito de ficar de pé no ônibus... uma metáfora à qual ele recorria para falar sobre mulheres que se masculinizaram e homens que perderam o cavalheirismo e a educação no momento em que o sexo frágil decidiu ganhar dinheiro com o suor do próprio rosto. Acho que até o filósofo Sabino ficaria de queixo-caído quando ouvisse a história do metrô: se já é feio a rapaziada sentada no transporte coletivo enquanto as moças vão todas de pé, o que dizer de um homem sentado que se recusa a dar o lugar a uma gestante?
Muitos homens ainda não entenderam que independência financeira não fez da mulher um machinho (aliás, como dizia o Sabino, até algumas mulheres não entenderam isso).  Ter autonomia financeira e emocional (porque uma independe da outra) não dispensa o tratamento gentil: erra o homem que normatiza os sexos e erra a mulher que aceita a normatização. Eles pensam que se elas racham a conta do restaurante e da casa, também podem carregar as sacolas pesadas do mercado e ficar de pé no metrô. E elas aceitam como se fosse vergonha reclamar; talvez porque muitas vezes se portem mesmo como homens, como se ser mulher fosse coisa menor. Ô confusão!
Mas o caso é que nem mesmo uma passageira apareceu para se solidarizar com a tal gestante e ceder o assento... mais uma prova de que o mundo virou uma selva de bestas-feras onde a sobrevivência fica cada vez mais perigosa e, as relações sociais, mais difíceis. Veja você que até em "Kill Bill", aquele filme do Tarantino que espirra sangue da tela no espectador, as duas matadoras superprofissionais não se matam porque uma delas confessa estar grávida... imagino que, além do Sabino, o Taranta também ia ficar pasmo com a história do metrô.

Mas na nossa sociedade desenvolvida, é assim: para nos defendermos do medo generalizado, recorremos à agressão; “defender-se”, aliás, é o verbo gravado nos nossos cromossomos: estamos sempre em estado de vigília para a defesa, e não raro ela é o próprio  ataque. Vivemos um eterno perigo iminente, ainda que ele nos chegue na forma de uma moça grávida que passa mal ali bem ao nosso lado no metrô, e que fingimos não perceber... mas ela, inconveniente, nos incomoda ao pedir ajuda, nos invade, nos prejudica, nos faz viajar de pé!

E é assim, desconfortavelmente de pé, que teremos que seguir viagem enquanto sonhamos com tudo o que o consumismo, nosso deus, é capaz de nos fazer desejar... para que possamos forjar uma imagem cheia de estilo e interessante aos olhos dos demais... mesmo que, por dentro, a gente seja, simplesmente... um serzinho egoísta, sem-educação ou empatia, e completamente despido de compaixão. Quer coisa mais brega, que grife nenhuma consegue disfarçar?


Se estiver grávida, a heroína de "Kill Bill" também merece o seu lugar no assento do metrô...

4 comentários:

  1. Penso (se é que ainda consigo rsrs) que este individualismo exacerbado incentivado pelo fundamentalista neoliberalismo predador , que ignora o cidadão pois a ele interessa somente o consumidor ...dificulta (diria até que impede...), o olhar ou a escuta com relação ao próximo.

    Sem contar que as pessoas, na grande maioria, estão voltadas para as suas traquitanas tecnológicas e "online" consigo mesmas, alienadamente, nos joguinhos e mensagens escapistas. Como a educação que recebem dos pais é quase nenhuma ("papi e mami" já não tiveram aquela básica e boa, quase sempre), além da escola ser de baixo nível...a conclusão de que já convivemos com os "novos bárbaros" é de evidência solar.

    Sua observação através destas bem traçadas linhas, dão o testemunho destes tempos preocupantes, medíocres e (quase) bárbaros, no sentido literal de barbárie.Lamentável é pouco.Preocupante é o mínimo.E sem catastrofismos, please!
    Santé e axé!
    Marcos Lúcio

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    1. Desculpe a desatenção...o correto é:sua observação (...) dá o testemunho.
      M.L.

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  2. Fernanda,

    Alguns homens na realidade tem medo do poder da mulher. Nao e este o caso, claro .... a meu ver, isso que ocorreu, alem de ser uma falta de educacao ...e das bravas ... e falta de respeito ....imagino como deve ser o relacionamente familiar, digo isso, porque o basico vem da educacao em familia .....

    Felicidades,

    Gilda Bose

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  3. Com os direitos iguais os homens não devem nada as mulheres.
    Dizer para os homens voltarem a ser cavalheiros é como dizer que as mulheres devem voltar pra cozinha.
    As mulheres na rua não são nada minhas então vou tratalas iguais aos homens. Não sou escravo de mulher
    Direitos iguais com deveres.

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