sexta-feira, 21 de junho de 2013

Ensaio sobre as Manifestações

Até hoje à tarde, enquanto eu caminhava absolutamente sozinha na rua, e me dei conta do risco, as manifestações que tomaram conta do Brasil nos últimos dias eram coisa que eu lia no jornal. Mas foi hoje que eu também pela primeira vez ouvi o som que o revólver faz, no momento do disparo: a manifestação chegou à minha vizinhança, onde conversei com as empregadas domésticas, os porteiros e os funcionários do comércio, todos se preparando para dormir na rua caso não houvesse como voltar pra casa. Uns apavorados, outros fazendo piada, como é típico do brasileiro...

Foi hoje também, que depois de quase dez anos sem ver o Jornal Nacional, que sintonizei na Globo pra acompanhar a cobertura das manifestações. E dá-lhe quebra-pau, no melhor estilo dos noticiários de TV. Nem jantei...
É quase inacreditável a força do povo nas ruas, mas então pensei no gosto de quarta-feira de cinzas que senti quando meu bairro, às duas da tarde de uma sexta-feira ensolarada, se pareceu mais com uma cidade-fantasma: todas as portas fechadas, tudo deserto por causa do medo generalizado que o vandalismo espalhou.
Meu marido tirou a moto da garagem para fugir dos engarrafamentos. A faxineira não veio. O médico desmarcou a consulta porque voltou mais cedo pra casa. Parentes nos bairros vizinhos ligam pra avisar: “fica em casa!”. Amigos contam situações de pânico pela cidade: corre-corre, pedras voando pelo ar, balas de borracha, gritos... por todas estas coisas, ando com certa sensação de aprisionamento.
Enquanto isso, vejo a Dilma na TV, prometendo ouvir o povo. O movimento Passe Livre já bateu em retirada. E amanhã eu vou sair pra ver as depredações na vizinhança, imaginando onde é que tudo isso vai dar. Parece até livro do José Saramago.
O clima na cidade hoje me fez pensar na obra-prima de Munch...

9 comentários:

  1. Eu ainda não consegui interpretar a fúria dos vândalos destruindo tudo por onde passavam. Pareceu-me um "tsuname"humano. Quanto ódio represado. Tive a impressão, que muitos deles, se tivessem uma arma de fogo nas mãos atirariam tranqüilamente na cabeça de quem tivesse em seu caminho, por nada. Lembrei-me de assaltos, onde, matam a vítima, pelo prazer de vê-lãs tombarem como se estivessem participando de Video-game ao vivo. Tem muita coisa errada no nosso Basil. Estamos numa guerra surda e suja. Não adianta prender meia dúzia de gatos pingados para mostrar servoço. O buraco é muito mais embaixo. Brasília que se cuide, porque o "ovo da serpente" está lá. Bjs Yves Rangel.

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  2. Fernanda,

    Manifestacoes com o povo, bem organizada e com paz, e uma coisa...agora o problema sao as infiltracoes ... essas sao perigosas e ninguem sabe quem e e nem da onde vem ....e e muito triste presenciar esta violencia como voce descreve acima ....o jeito e rezar e pedir protecao para todos os santos e anjos .....
    Felicidades,

    Gilda Bose

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  3. Absolutamente normal a sensação de aprisionamento diante do caos e da selvageria - diria até barbárie-, como resultado catastrófico pelos atos de vandalismo em inúmeras cidades do Brasil...como se quebrar e incendiar garantisse, num passe de mágica, melhores hospitais, escolas e país mais justo. Reinvidicar melhorias, benfeitorias, através de malfeitorias e anarquismos, enfim, descontrole total, é estúpido, no mínimo. Pelo menos abaixaram a tarifa de ônibus... pra não dizerem que não falei de flores rsrs.

    Sem confiar na tomada de consciência tão instantânea desta gente jovem, apática e bronzeada (como se saíssem pulando corda ...de um coma induzido por via televisiva durantes anossssssssss), minha desconfiança só exacerbou ao ler pesquisa do Inst. Data Popular e da Avaaz onde jovens descrentes politicamente , sedados pela telê e traquitanas tecnológicas, majoritariamente, afirmaram acreditar ou valorizar mais a iniciativa individual em detrimento da ação do Estado.Diante da pergunta : "Qual o principal fator que contribui para sua vida melhorar?", alienadamente 53 % deles responderam "meu próprio esforço", com o papel do governo na melhoria, aparecendo somente para 2%. Triste e lamentável, quase nerd. Filhos e frutos da lavagem cerebral do fundamentalista neoliberalismo que leva os incautos a uma individualização e competição extremas e insanas, além de serem transformados em consumidores exclusivos, em detrimento da cidadania. A crise deste modelo predador e excludente não me deixa mentir. É através da solidariedade, do cuidado ou da equipe que nos salvamos quase todos , senão, nos "fu" quase todos rsrs.

    O brilhante cientista político Fábio Wanderley, de Belô, professor emérito da UFMG, vê uma postura ingênua no movimento e diz o óbvio ululante que quase ninguém sabe ou reflete, neste país de dimensões continentais.
    _ Há uma visão utópica de que você pode dispor das coisas sem instituições.Que você pode ser contra o Executivo, os partidos, a direita, a esquerda, sem a noção de que as idéias têm de ser estruturadas e que é preciso gente capaz de formular programas exequíveis. Não se constrói democracia sem atividade partidária.Há neste tipo de jovem, uma visão ingênua, utópica, romântica, BOBOCA, DESINFORMADA, muito pouco sofisticada, e aí prevalece um certo repúdio à política em geral.

    Enfim, a coisa extrapolou os limites do "aceitável" e tomou proporções descabidas. A barbárie mostrou a cara com suas absurdas depredações, além dos incendiários (piromaníacos?!) literais e, pior ainda: a violência, sempre imperdoável.Agora estou vendo quem são os verdadeiros vândalos, arruaceiros, baderneiros e anarquistas que, certamente, não são petistas, outrora assim chamados.
    Santé e axé!
    Marcos Lúcio

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  4. Quem seriam os vândalos? Seriam bandidos? Bandidos não são porque bandido, creio eu, fica mais no seu reduto, na sua zona de conhecimento. Age fora, mas não se arrisca na banguela, por causa de outrem, afinal, bandido tem lá suas regras. Têm até código de honra... Credo! Se bandido não é, pensei na queda da Bastilha. Pode ser! Porque não? Pode ser que a rapaziada esteja de saco cheio de ver tanto escândalo e perversidade social, com a política passeando pelo mundo, levando dinheiro a não mais poder e de tudo que é jeito, dinheiro em fardos, rebocado pela coitada da Rosemary, que por tanto é obrigada a dar beijo no barbudo do Lula, mesmo que arrotando cachaça e muitas vezes com gosto de churrasco (tudo azedo), em troco de nada mais que ter prestígio da outra, de ser a outra e, levar só um pouquinho da grana toda - o que já é muito. Em razão de tudo isto, quem sabe, não partiu, (como dizem) para alienar na rua, sem mesmo ter uma causa, até porque em nome de uma causa, existe hoje o lamaçal PT.

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  5. Realmente, eu só entendi bem o movimento quando vi pessoalmente.

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  6. Fernanda,

    Somos meio que "empurrrados", para considerar estes jovens, ora como vagabundos, ora como uma "juventude linda e heroica" que acordou...Na verdade - alguém pode usar essa palavra ? - Vou usar: Na VERDADE, nunca é assim nos movimentos sociais. Vou soltar algumas verdades :

    1) Os jovens não-vândalos, têm alguma culpa no vandalismo - no fundo isso fortalece o movimento. Não se pode negar isso...eles pedem "sem violência" e sorriem por dentro....isso eu já constatei.
    Gente mais informada, chega a dizer que isso é até estimulado por algumas lideranças "não violentas "

    2)A grande maioria está mesmo interessada em mudanças, mas acompanha isso, mais com adrenalina do que consciência politica. A diferença agora, é a velocidade da informação, no mais, estamos repetindo 68, Diretas-já, ou os Cara-pintadas - sempre a classe média. Para fechar a questão, comparo o episódio com o "linchamento" daquela moça aqui de São Paulo, que usou um vestido curto e foi vaiada de forma violenta na sua faculdade. A imprensa, vendeu cinicamente o episódio como um surto de moralismo, quando todos sabem que isso não passou de diversão. Alguém começou a vaiar, a coisa ficou divertida e pronto.Ninguém lá, estava escandalizado com a roupa da moça. Se nem os pais se escandalizam, os colegas de faculdade se escandalizariam ? Do mesmo modo, há algo de diversão nisso tudo, nesses movimentos...

    3) O movimento é de perfil socialista, enquanto nossa sociedade nem saiba do que se trata, mas o socialismo, não cola e não vai pra frente nesse pais. Graças a Deus...

    4 ) Atuação politica pressupõe maturidade, e isso pode estar ocorrendo em parte destes jovens. Já que nós adultos, temos que cuidar dos nossos compromissos, ora trabalhamos e estudamos, ora temos filhos, netos ou pais idosos para cuidar....ora temos contas a pagar...ora estamos preparando nosso casamento e mobiliando um apartamento - que é o meu caso....deixemos que os jovens vão para a rua.....apesar da minha desconfiança, isso tudo é bom...mas ainda não sei como fazer os jovens nos ouvir, e se eles não querem nos ouvir, ouvirão a quem, se no governos não se fala com autenticidade. O JOVEM QUER AUTENTICIDADE, E O GOVERNO NAO SE DEU CONTA DISSO.....

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    1. Eduardo, obrigada por seu primeiro comentário aqui no blog, seja bem-vindo. Veja, ontem mesmo eu estava conversando com uma moça de 23 anos que está orgulhosa de ter participado de uma das manifestações e de ter levado gás lacrimogêneo na cara, embora estivesse preparada, de máscara. Ela me disse, fazendo beicinho: "Eu estava cansada de ser chamada de alienada. Não sou alienada! As passagens baixaram!". Fiquei olhando para ela e não tive coragem de dizer que nós (inclusive os pais dela, que a sustentam) é que vamos pagar o rombo desta conta. Mas esta moça não é o único extrato das passeatas. Há também a turma que bate cartão na multidão para fazer "social", paquerar, gritar e se divertir, como você bem disse. E há os politizados. E, entre estes, muitos que sonham com a carreira política. Enquanto isso a mídia continua fazendo sensação com a horda do vandalismo, porque o povão que vê JN adora ver quebra-quebra. Misturado a tudo isso, há o grupo dos que realmente estão ali para reivindicar mudanças. O único problema é que tentar parar o país todos os dias não vai resolver a situação, mas acabar esvaziando a força do movimento e tirando dele a seriedade. Daqui a pouco a própria sociedade civil vai começar a se encher dos transtornos causados por manifestações seguidas, e a classe política vai se recordar do velho ditado que diz "cão que ladra não morde". E é assim que o movimento que começou tão bem corre o risco de virar pizza. Abraços e volte sempre!

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    2. A estréia do Eduardo foi em grande estilo/inteligência e ótima argumentação. E a réplica da talentosa blogueira não ficou nada a dever...
      M.L.

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  7. Obrigado Fernanda e obrigado Anônimo. Não é a minha estréia no Blog. Eu a conheço do JB e comentei muito no Blog do Balocco, da Vanessa Almeida e no seu também.Eu também sou blogueiro e certamente você se lembrará de mim. Meu blog é www.algosolido.wordpress.com, seja bem-vinda

    Abraços...

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