quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Na montanha-russa, a fome que dói ali dói aqui

Veja você o que me chegou por e-mail: o tal do “café suspenso”, que é comum na Bélgica. O cliente entra na cafeteria, compra sua bebida quente e deixa uma (ou quantas quiser) paga previamente para alguém que não tenha dinheiro. Não é legal?

Não sei se o “café suspenso” daria certo no Brasil, mas venho notando que "esmola" virou termo pejorativo por aqui. “Caridade” também. Dar esmola e fazer caridade são práticas quase em desuso porque, além de vivermos a Era da Individualidade, o brasileiro já não aguenta mais se sentir roubado. E ainda vai dar mole pra Kojak, deixando-se ludibriar pelo mendigo?
Não sou antropóloga. Se fosse, talvez reprovasse a esmola argumentando, entre outras coisas, que o governo é que deve ser mais eficiente no combate à pobreza e que a esmola, inclusive, alimenta a vadiagem. Também não sou especialista em sociologia, e tudo o que sei é o que acontece comigo quando vejo a marca que a fome deixou no rosto de alguém.

Também é verdade que eu mesma já fui vítima de pedintes-golpistas, e mais de uma vez. Já dei dinheiro pra “mendigo” que estava em melhores condições financeiras que eu mesma. Ainda assim, vejo com ressalvas o discurso contrário à esmola porque muitas vezes ele me parece, lá no fundo, servir de escudo para o individualismo.

Não importa se aquele que pede é um ator de primeira grandeza, um mentiroso que vive de explorar a boa-vontade alheia. O que importa de verdade é se ainda conservamos, dentro de nós, uma pequena porção que seja de empatia com os outros, sobretudo “os outros” que são miseráveis. Porque com gente linda e rica todo mundo se identifica... difícil é criar identificação com o feio, o pobre, o sujo, o maluco, o viciado e o pedinte.
Antes que alguém me chame de boba ou de santinha, aviso que nem sempre meu coração se rende a um pedido de ajuda. Não sei exatamente como se dá a coisa lá no meu íntimo, mas é numa fração de segundo que acontece o sim ou o não. Alguma coisa no olhar, no jeito de estender a mão, no tom de voz ou no andar do outro... alguma coisa misteriosa que, em um átimo, me conecta ou não com ele. E quando acontece a conecção, de repente entendo que eu bem poderia estar ali, no lugar dele; ou que ele poderia ser meu pai ou meu irmão, em situação de carestia absoluta, pedindo ajuda a um desconhecido na calçada. É neste momento que nos igualamos, seres humanos que somos, os dois. Pessoas no mesmo mundo, mas com oportunidades tão díspares, e é aí que está a diferença essencial.

A gente quase nunca pensa nisso. Quase nunca pensa que a vida é uma montanha-russa para todos, e que o "impossível" pode acontecer a qualquer um. Não atentamos para o fato de que a fome dói na barriga do mendigo exatamente como dói na nossa; que o coração bate igual dentro de todo mundo, cheio de emoções idênticas.

A gente não tem tempo pra pensar nestes detalhes, nem olhos para ver os indigentes que sujam a avenida. É mais fácil não ver porque certas coisas dóem demais, e enxergar o próprio egoísmo é uma delas.

8 comentários:

  1. O melhor eh fazer caridade como faz o PT, caridade com dinheiro dos outros...

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    1. Pois pois tambem acho! Vamos todo os pobres para um estadio de futbol.

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  2. Novidade? Existe há muito tempo, e não é caridade
    http://cafeliterarioclub.blogspot.com.br/2011/12/voce-paga-o-cafe-do-proximo-cliente-e.html

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  3. E você ainda fala mal do Bolsa Família... que nada mais é que o governo incorporando o espírito cristão e matando a fome de quem não teve oportunidades.

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  4. É por isto que leio este blog. Porque me identifico tanto com o que você pensa.

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  5. Concordo absolutamente com seu ótimo texto e não tenho dúvida alguma de que o "impossível" pode acontecer a qualquer um e não somente a um qualquer...o acaso está sempre à espreita.

    Quando repassei este oportuno texto para vários amigos e conhecidos e colegas... fiz a ressalva que ainda mantenho:Pena que no Brasil, ainda mais no Rio, os donos dos estabelecimentos, adorariam ficar
    com o valor, sem dar o café ao necessitado...se não estou exagerando.Sei de estabelecimentos (cujos donos são FDP)que ficam até com a gorjeta dos garçons, pasmem!!!
    Santé e axé!!!
    Marcos Lúcio.

    P.S.Tomara que eu esteja equivocado.

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  6. PESSOAL TENHAM CALMA O DIN DIN TEM QUE IR PARA OS ESTADIOS DA NOSSA COPA DO MUNDO. FAZER O QUE....... Deixa a dona Dilma huuuuuu fazer a merda dela a la von t

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