quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Cena


Perdôo...

Deixo passar da ofensa quase tudo.

Mas dôo até os dentes

A chaga interna, invisível,

Uma tristeza de veludo,

Aprazível

Um mal querer de mim por mim.

Fico a jazer imóvel

Mesmo que haja sol e os insetos sonolentos

Deixem reinar a paz no apartamento.

Há uma fera em mim, um animal ossudo,

Que ronda os quartos, faz covas no jardim,

Bate as janelas, faz quebrar os pratos.

Permito que ele fique

Faça morada aqui, sob o meu teto;

E que à tristeza engorde

Como se houvesse pelo chão

Milhões de ratos.

 
(Fernanda Dannemann)


3 comentários:

  1. Este belo cometimento (a poesia existe porque a vida não basta) da talentosa blogueira remeteu-me, imediatamente, à uma fala luminosa do maior poeta vivo do Verdelindo, na minha modesta e desimportante conceituação, ou seja, o grande Ferreira Gullar ...e que assino embaixo: "A minha poesia nasce do espanto. Qualquer coisa pode espantar um poeta, até um galo cantando no quintal. Arte é uma coisa imprevisível, é descoberta, é uma invenção da vida. E quem diz que fazer poesia é um sofrimento está mentindo: é bom, mesmo quando se escreve sobre uma coisa sofrida. A poesia transfigura as coisas, mesmo quando você está no abismo. A arte existe porque a vida não basta”. BINGO!!!
    Santé e axé!
    Marcos Lúcio

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  2. Fernanda poeta... quando os cegos do castelo vão te descobrir?

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